Nossos cinemas

Os cinemas Icaraí, São Bento, Mandal, Cassino, Grill, Cine Teatro Imperial, Éden, Odeon e Central, no qual somente se podia entrar com paletó, eram umas das versões da juventude, que chamava de "gorilas" os militares que apareciam nos jornais antes dos filmes. Documentários faziam sucesso na época ditatorial, por mais incrível que pareça, existia ainda o cinema de rua, passado nas praças e localidades onde a população levava as suas cadeiras para assistir os filmes. O documentário "Japão nunca mais", que mostrava a "americanização" dos jovens orientais dos seus costumes, até com plásticas para mudar o formato dos olhos, fez muito sucesso em Niterói. O livro "Imperialismo e angústia" de Cláudio De Araújo, no qual o autor mostrava que o nosso costume de se alimentar com calma em comércios administrados originalmente por lusitanos, com suas mesas colocadas nas calçadas, com o tradicional "cafézinho", era destruído pelo hábito de se comer rápido e em pé, em uma forma de aculturação americana para si, sendo assim mais fácil de nos dominar. Em um desses documentários, Luís Sérgio Rosa, líder estudantil, ficou de pé e sob aplausos da população de Santa Rosa, divulgou o livro do autor citado acima.  

A pedreira, a reunião e o roubo do cofre de Ademar De Barros

Na rua Belisário Augusto existe uma pedreira na qual uma mata relativamente alta e na época, repleta de animais silvestres, fazíamos passeios por toda Icaraí e boa parte de Niterói. Na citada rua, mais precisamente nº 80, apt.101, residia minha avó materna Joana Matos, mãe do meu tio Pedro Rocha Matos, dono da construtoras Guanabara, JCMartins e Colúmbia, sendo pessoa influente junto aos meios políticos governamentais e foi quem construiu os primeiros prédios em Niterói, sendo inclusive amigo de um grande investidor acusado na época de quase quebrar  bolsa de valores. Porém seu filho, intelectual Carlos Eduardo Matos, simpatizante do PCB, foi preso e levado para a Ilha Das Cobras. Graças à influência paterna, foi solto, casando depois com a Sônia, filha de uns diretores da editora Abril.
Estando como responsável pelo apartamento de minha avó que viajava, o Ike, junto com o Franklin, amigo do Carlos Eduardo, popular Cadu, me pediram o apartamento para fazer uma reunião de um grupo simpatizante da guerrilha urbana. Franklin morava em uma pensão chamada de Mundo Cão, localizada na rua Moreira César, esquina com Mariz e Barros. Na reunião de vinte pessoas a qual não pude participar, foi levado uma mala cheia de livros subversivos, que foram lá deixados sob minha guarda no final da reunião do que foi o início do movimento MR8, fundado em Niterói. Ao voltar de viagem, minha avó falou que homens de terno tinham vindo lhe pedir a mala lá deixada, falando em nome do Ike, que negou categoricamente ter mandado alguém pegar a encomenda. Provavelmente era agentes policiais. Passado os tempos, encontrei o Franklin, já membro do grupo guerrilheiro Var Palmares, que revoltado criticava o fato de ter sumido o dinheiro do cofre do governador Ademar de Barros, guardado no Copacabana Palace, no Rio De Janeiro, que defendia as posições assumidas elo capitão Lamarca, morto em 1971. Eu notava que as esquerdas estavam divididas e partiam para uma estratégia de resistência facilmente vencida, pois o governo fazia propagandas na televisão que mostravam o depoimento de vários guerrilheiros arrependidos e também mostrava soldados e policiais com as famílias, dizendo : "Eles também são brasileiros". Na época da reunião, falavam que a pedreira poderia servir para treinamentos e guardar materiais.
Eu gostava muito de panfletar, jogando papéis nos escritórios do meu tio, do alto dos prédios com o apoio dos seus funcionários. Existia um vira-lata chamado de Radar, um cão de rua muito querido no bairro. Quando a jovem militante Verônica passeava com o animal na coleira pelas ruas, era o sinal para pegarmos os panfletos e os distribuírmos pela cidade sempre as 16:00 horas. No mês de julho vários baloeiros soltavam seus balões na cidade com dizeres anti-militaristas.   

Operação Condor

Havia um intercâmbio secreto entre Brail, Uruguai, Argentina e possivelmente Bolívia, onde presos e refugiados políticos eram trocados  mutuamente. O movimento reape não era bem visto nem pela esquerda e nem pela direita niteroiense, pois com a desculpa de paz e amor, usavam drogas e a polícia vivia dando "batidas", incomodando a todos. A Carla era uma excessão a regra, muito bonita , culta e asseada, namorava um vendedor de churrascos, sendo ambos queridos por todos até então. Sua piada na qual falava que um avião cheio de políticos caiu em uma fazenda de um bom homem, que enterrou a todos em vala comum e ao ser perguntado se não tinha nehum sobrevivente, falou que uns mexiam a mão, mas como todo político era mentiroso, enterrou todos. Criticava Roberto Carlos e Pelé por não se não manisfestarem contra a ditadura e drogas, em uma contradição à sua filosofia. Brigando com o vendedor de churrasquinhos, falou para todos que o mesmo era um agente do SMI e que militares organizavam a operação Condor. Nós sabíamos da existência de esquadrões da morte oriundos da chamada Escuderia Lecoq, que matava pessoas e as jogavam nos brejos da estrada de Magé. Alguns boatos corriam, dentre os quais a de que o massacre da Candelária teria sido em represália ao fato da mãe de um oficial militar morrer atropelada após fugir de ladrões.
No Clube De Regatas Icaraí houve uma "pancadaria" entre fuzileiros navais e lutadores do clube devido acusações e provocações políticas. Flávio Dutra, Nelson Brancura e Nandinho, bem como outros, deram uma surra na guarda dos fuzileiros, que por tradição patrulhavam o clube em certas ocasiões. Com a chegada dos reforços, a situação se inverteu.
Nas proximidades do Regatas, morava o empresário e amigo Jorge Germain, dono do supermecado Atlas e íntimo dos donos da Art Plan, que organizam o famoso festival Rock'in Rio, seu sobrinho era presidente do Líbano e foi morto em um atentado. O meu amigo empresário ajudava todo mundo, inclusive em seu mercado, os funcionários ganhavam bem e quando eram mandados embora não sujavam as suas carteiras trabalhistas. Na intimidade, me falou muito chateado que uma máfia trocava dólares falsos por dólares verdadeiros, coisa que achava um absurdo. Era um democrata, ligado ao capital nacional e tinha simpatia por Brizola. Quando faleceu, a sua missa no Ingá ficou tão cheia que o padre pediu para os cumprimentos à família fossem dados ao lado da Igreja e falou da sua admiração pelo amor que pobres e ricos independentes de cor e credo tinham para com o mesmo, que inclusive trazia parentes fugidos da guerra do Líbano para trabalharem nas suas empresas.
A Carla desapareceu bem como o seu namorado, criando assim um mistério em torno de quem era quem, pois o SMI se infiltrava em tudo quanto era lugar.

O rearmamento moral, o congresso e João Batitsta

Em um congresso de estudantes de todos os representantes do estado em Petrópolis, Aires Barbosa, líder de Niterói e presidente da União Renovadora Estudantil, fez discurso falando para os estudantes que como Cristo, levaria sua cruz até o fim apesar das perseguições e falou que o exército se deixou levar por fofocas que nem na proclamação da república. Pedindo a palavra, o comandante do Batalhão De Caçadores Do Exército em Petrópolis lá presente, falou que não prenderiam ninguém e que discordava do Aires, pois na Rua do Vidor, segundo o historiador Joaquim Silva, Deodoro se irritou com o fato do boato de que Dom Pedro II, amigo de Deodoro, teria ordenado a sua prisão. Como Deodoro, que esperaria a sua morte para proclamar a república, ficou irritado e apressou a mesma.Segundo a argumentação, não era fofoca e sim boatos com certo fundamento. Ficou sub-entendido também que os militares queriam após a derrubada do governo, eleições logo e que atitudes contrárias seriam um tipo de traição. Depois foram ao rearmamento moral, onde foram muito bem tratados. Chegando em Niterói, soubemos da prisão de João Batista de Andrade, que subindo em um caixote, fez discurso na Amaral Peixoto contra a ditadura, sendo preso pelo famoso comissário Coelho, porém o major Paulo Biar, secretário de segurança, que não morria de amores pelo comissário e que não suportava o fato da polícia civil levar propina da contravenção, mandou soltar o mesmo. João Batista foi o propulsor dos comícios relâmpagos em cima de bancos e caixotes no centro de Niterói contra a ditadura, que depois virou uma epidemia geral. Comícios relâmpagos nos ônibus também eram feitos pelos opositores. O major Paulo Biar, cuja filha Graça estudava no Centro Educacional, falou para um grupo de estudantes para falar em seu nome caso tivesse algum problema.
João Batista posteriormente ajudou a fundar o PT, que cresceu graças à adesão dos católicos, porém o citado partido, traindo os religiosos, em algumas secretarias tirou o crucifixo e colocou um retrato de Che Guevara no seu lugar. O conceituado médico católico doutor Carlos Tortelli tornou pública tal atitude.
O erro do PDT foi não trabalhar os católicos. João Batista De Andrade, que passou a vida combatendo a ditadura e defendendo a ecologia, passou para o PDT. Na época dos idos 60 e 70, foi criado o Fundo De Garantia, iniciando assim, a mudança das leis trabalhistas getulistas, aliás, muito transformadas para pior após a abertura, o fundo de garantia passou a financiar com o tempo habitações para a burguesia, deixando o operariado e o proletariado a "ver navios", morando em favelas e sob comando dos traficantes do famoso Comando Vermelho, que por ironia do destino, aprendiam táticas de guerrilha com os presos políticos de 1964. 

Saindo do exército e dando baixa no jornalismo

No forte do Gragoatá, procurei o capitão Gilberto Guedes, filho do general Aloísio, que era comandante do exército e tio do Edigar, casado com a prima Lúcia. Quando falei com o major médico Andrade, ele me despensou junto com vários amigos da política estudantil de servir no exército. Meses depois o Gilberto, ao estacionar o carro em frente à 77ª Delegacia de Niterói, foi preso pelo delegado Bellot, que lhe chamou de capitão de araque. Ao saber do ocorrido, seu tio invadiu com caminhões da polícia do exército a delegacia e soltou o capitão e todos os presos, levando o valente delegado para a prisão militar do forte Santa Cruz, onde ficou vários dias. Deixando o presídio, Bellot em uma atitude insólida, deu para carimbar as pernas das moças que iam na praia, tendo como punição o afastamento das suas atividades policiais por meses. Na CR o amigo civil Jorge De Almeida, querido pela 2ª seção do exército e sendo também secretário do deputado Márcio Macedo, do partido de oposição MDD, conseguia dispensar à pedidos vários jovens do serviço militar. Era uma prática legal dentro do excesso de quantingentes. Certa vez o major Andrade foi no jornal A Tribuna e lhe pediu para denunciar erros na área médica de Macaé, através de um artigo que assinei. Nesta época existia a rádio Difusora na praia das Flechas e rádio Federal no Centro. Na associação fluminence de jornalistas, o jornalista ílvio Fonseca, meu padrinho e à favor do golpe, permitia que nós fizéssemos reuniões políticas contra o governo e pesquisas. O jornalista Paulo Frances era detestado tanto pela direita como pela esquerda e todos gostaram quando nos EUA, a máfia lhe enviou um peixe morto de presente, impondo o silêncio mafioso nele. O Ziraldo era respeitado, bem como o jornal O Pasquim. Porém, é interressante o fato dele não gostar de crianças e escrever o Menino Maluquinho e receber indenização política na abertura como se fosse sido muito prejudicado. Sebastionelli da Tribuna Da Imprensa e todos os presidentes da ABI, em especial o Barbosa Lima, eram nossos ídolos. Quando começaram certos diretores de jornais à publicar anúncios não autorizados e cobrados, bem como à publicar poucos exemplares para receber o anúncio no,  caso autorizado, muitos trocaram de jornais. Quando me pediram para, com uma talão de recibos, cobrar dos vereadores pronunciamentos para publicar, larguei o jornalismo e fui estudar História. Não me registrei como repórter porque me enrolaram. Na associação Fluminesce De Jornalistas, praticamente leiloada por questões trabalhistas, não consegui meu ingresso e nunca me responderam aos escritos enviados. Faço estes registros para que se saiba que em Niterói, no início do golpe, fazíamos jornalismo por ideal e não aceitávamos imprensa marrom.

Nossas livrarias e assuntos comentados

A juventude comprava livros em grande quantidade nesta época, os autores preferidos eram Max, Lene, Sartre, Roger Bastider, Alceu De Amoroso Lima, Caio Prado Júnior, Nélson Sodré, entre outros. Na livraria universitária LUF, localizada na reitoria, o livro "O estado e arevolução", de Lene, bem como "O livro vermelho", de Mao, eram vendidos clandestinamente. "A Incíclica Do Papa João XXIII" também era muito lida pelos católicos atuantes. Não sabiam os estudantes que na União Soviética se cometiam as mesmas barbaridades que se faziam no Brasil por militares que manchavam a farda, pois os jovens, como eu, acreditavam inocentemente na liberdade na União Soviética. Na livraria Arte e Ciência, a jornalista Liziane Cunha arrecadava fundos para ajudar os presos e foragidos políticos. Se iniciava a organização da revolta contra a ditadura através das guerrilhas cubanas. Eu que militava como repórter, fiquei frustado por não poder divulgar na imprensa local o fato de que o Brasil teria dado em uma remarcação de fronteiras, dando um território muito grande para a Bolívia em um acordo supostamente secreto, conforme me falou um tio que foi presidente da Embrapa. Porém, falávamos isso e outros assuntos ao "pé do ouvido" nas livrarias. Tinha um professor de engenharia que ensinava como se fazer armas. A caso da filosofia, também era por nós frequentada. O livreiro Aníbal Bragança, pessoa de maior gabarito intelectual e moral, permitia que os universitários comprassem livros nas livrarias Diálogo e Debates, pagando quando quisesse e como pudesse no final do mês. Certa vez, na livraria Arte e Ciência, dois portugueses após fazerem amizade comigo e com meu grande amigo Luís Plauto De Olivera Pinto, homem culto e inteligente, confessaram ser agentes do Serviço Secreto Português e após longa conversa conosco, desistiram de sequestrar Aníbal Bragança e "sumiram da área", como se diz na gíria. Na livaria Ideal, o senhor Silvestre Mona, ao nos ver meio tristes, falava a frase: "Olha o azul do céu", depois Carlos Mona, seu filho, assumiu a direção da livraria e sebo Ideal, onde grupos de intelectuais se reuniam e lançavam seus livros. Dentre eles, podemos citar José Cândido De Carvalho, Luís Antônio Pimentel, Agripino Grieco, Sávio Soares De Souza, dentre muitos outros. Muitos fizeram enormes bibliotecas, o amigo Doutor Miguel Pereira Fernandes coneguiu formar uma biblioteca de aproximadamente 100 mil livros, perto dele, consegui chegar aos 5 mil. O professor Ulianov Pedrosa, filho do renomado artista plástico Israel Pedrosa, também frequentava as livrarias. Eu pessoalmente tive o prazer de se não ser o primeiro, com certeza um dos primeiros ao ouvir do mestre Israel Pedrosa a seguinte frase: "Sérgio, acho que agora vou colocar as pesquisas nos seus devidos lugares, pois descobri com certeza, a teoria da cor inexistente de Gothe.", não deu outra. As livrarias de Niterói eram o nosso reduto e refúgio.

Pessoas, personalidades e personagens exêntricras

Conforme foi dito anteriormente em Icaraí, mais precisamente na praça e no Le Petit, Bar Chalé e proximidades, se reuniam as lideranças locais e pessoas que não tinham posição política, pois Niterói era uma cidade onde todos se conheciam. Uma figura conhecida aqui era o Robertinho apelidado carinhosamente de Robertinho Sacanagem devido as suas gozações. Certa vez o mesmo roubou um ônibus elétrico e dirigiu nu pela praia sob o efeito do álcool, dava gritos contra a ditadura, não foi preso por um milagre e foi logo vestido. Tinha o Zézinho, que apareceu do nada, sob acusação de ser agente do SMI pelos mais desconfiados. Ficava semanas sem tomar banho e vivia dos trocados dados pelo pessoal. Era muito culto e foi o mestre intelectual de famoso antropólogo niteroiense de renome internacional inclusive. De repente apareceu com o dinheiro de uma suposta herança, morreu enlouquecido devido às drogas. Certa vez, vendo dar gritos na Amral Peixoto, chamei sua atenção e o mesmo pegou um ônibus no momento de lucidez e foi embora. Tinha o Alan, professor de inglês e americano de origem, que dizia ter sido da legião estrangeira, com enorme tatuagem no braço esquerdo. Não gostava de polícia e provocava um comissário chamado Nílson que rondava por lá. Um saudoso bola preta, um negro alto e gordo, bom cantor e violonista, para desespero do dono do Le Petit, certa vez quebrou o violão na cabeça de um rapaz que cantava a música "Eu te amo meu Brasil", verdadeiro hino governamental da época. Ao lado do Petit residia o Dourado em uma mansão, sendo um futuro radialista. Construiu um barco por distração e o mesmo ao ser colocado no mar, afundou logo, para gozação geral. Foi o suficiente para o comissário Nílson entrar na sua casa à procura de supostas publicações clandestinas. O Nílson não era do DOPS e ao revistar Miguelzinho Karatê, que fazia piadinhas, levou uma surra do mesmo e de muitos outros. Luiz Antônio Pimentel era um dos intelectuais que iam na praçinha, chegando futuramente a ensinar literatura japonesa ao amigo Tanaka, falando no idioma oriental. Membros do conjunto MPB4 também lá iam bem como o Silveira, que teve um convite para ir com Sérgio Mendes para os EUA. Não foi, teve uma música gravada por ele e infelizmente morreu sozinho em um asilo. Nesta época, no final da década de 1960 e na década de 1970, boletins clandestinos circulavam em Niterói falando e denunciando dentre outras coisas, que o marechal Castelo Branco, quando tenente, se distraía ao ver soldados escorregarem em cascas de banana. Seu avião teria sido abatido por um piloto que jogou o seu contra o dele devido à perseguições sofridas por seu pai. O direito dos EUA em intervirem militarmente no Brasil também teria sido acordado por ele. Delfin Neto, o todo-poderoso ministro da fazenda, mentia nos dados inflacionários para conseguir dinheiro emprestado no estrangeiro. O encarregado de distribuir essas publicações era o Cássio, militante do futuro MR8. Finalizando este tópico, quero frisar que em uma atitude corajosa, o Luiz Sérgio, atuante da esquerda, defendeu as forças armadas dizendo que em sua maioria, os oficiais não aceitavam nem participavam das atitudes erradas cometidas por seus líderes.
Aliás, o comandante do exército em certa época, revoltado, determinou o fim das possíveis torturas e a punição dos seus executores. O fato é que vivíamos em um regime de exeção, com censura prévia e pouco se podia fazer para por fim ao desrespeito aos direitos humanos. Daí a importância da igreja católica, que tornou isto público internacionalmente. Também foi publicado para revolta geral a denúncia que um morador de Copacabana foi preso e enquadrado na lei de segurança nacional pelo fato de chamar o seu cachorro de estimação de Castelo Branco, ato considerado de suma gravidade pela repressão na época.

Leonel De Moura Brizola, o PTB e PDT

Leonel Brizola sempre incomodou por suas posições políticas e honestidade, seus opositores que nunca na época anterior, durante e depois da ditadura conseguiram provar nada de errado contra ele. Apesar de ter tido por motivos políticos seu pai decapitado no Rio Grande Do Sul, como governador fez um governo estatizante e repetiu o mesmo método no estado do Rio De Janeiro. Polêmico, queria saber se foram realmente os alemães, com seus submarinos que afundaram nossos navios, pois vendíamos matéria-prima para os mesmos. Era getulista assumido e perdeu a sigla do PTB na abertura política para a Ivete Vargas porque o general Golbery Do Couto e Silva armou nos bastidores a perda do PTB. Fundou então o PDT( Partido Democrático Trabalhista), chorando na televisão à perca da antiga sigla. Ao contrário de uma historiadora da fundação Getúlio Vargas, o Brizola fazia questão da sigla PTB. No Rio Grande Do Sul fez a resistência armada para garantir a posse de João Goulart. Quando veio o golpe militar de 1964, armou forte resistência contra a ditadura, porém João Goulart ordenou que o mesmo não resistisse com o exército gaúcho, para se evitar uma guerra civil. Então com o apoio da abrigada gaúcha foi tranquilamente para o Uruguai. O interessante é que em Niterói muitos membros do PCB e do PCdoB tinham um grande respeito e admiração pelo líder gaúcho. Com sua morte, o PDT praticamente acabou, parecendo que o Brizola se enquadra naqueles casos em que a história é feita as vezes devido a um carisma único e pessoal. Leonel Brizola pregava um tipo de getulismo adaptado as realidades latino-americanas inclusive. Mas isto é assunto para posterior análise.

O projeto Rondom e o Mobral

Feito provavelmente por militares simpatizantes do marechal Henrique Teixeira Lot, que não teve o apoio do Juscelino, que pretendendendo depois se reeleger presidente da república, apoiou Jânio Quadros em detrimento da ala nacionalista do exército, representada pelo marechal. A renúncia de Jânio Quadros, que deu início à semente do futuro golpe militar, segundo o almirante Hilídio Corrêa, em conversa informal comigo, foi devido ao fato de o mesmo em um almoço, estando bêbado, alisou as pernas da esposa de um político, que como vingança após receber do mesmo embriagado a carta renúncia, entregou a mesma ao Congresso por meio de terceiros. Também corria o boato no meio da marinha de que o almirante Sílvio Hek, ministro da marinha, teria praticamente implorado ao mesmo retirar a renúncia e que a marinha garantiria seu retorno a presidência. Porém Jânio sonhava delirantemente em voltar nos braços do povo. O almirante Hilídio Corrêa, homem íntrego e democrata, sendo meu amigo, comentou comigo estes boatos.
O projeto Rondom funcionou tão bem que o presidente Lula, um anti-militarista convicto, reativou o mesmo no seu governo. Na época da ditadura, estudantes universitários, sob o lema "Integrar para não entregar", prestavam assistência médica e odontológica social e psicológica as populações do interior amazônico do Brasil. Lá, detectaram missões estrangeiras que contrabandiavam nossa fauna e flora para o exterior. A revista Realidade nesta época publicou fotos de satélites americanos que mostravam locais de nossas riquezas, inclusive um possível pólo de petróleo. A revista foi censurada e recolhida das bancas de jornais, sendo vendidas ''a peso de ouro" as escondidas. Nesta época, embora nunca tenha se comprovado, corria o comentário de que forças paramilitares brasileiras teriam ajudado o presidente boliviano Hugo Banzer a tomar o poder, também se comentava que uma ala militar brasileira esperava o momento certo para anexar ao nosso território as Guianas. Com relação à usina de Itaipú, miliatares teriam comentado com participantes do projeto Rondom, que em caso de uma conflito militar com a Argentina, suas comportas seriam abertas como arma de guerra. No estado do Rio De Janeiro, participantes do projeto Rondom notaram que os botos da Baia De Guanabara diminuíam e eram contrabandeados para o exterior. Estes assuntos eram distribuídos em publicações feitas em miniógrafos à álcool e distribuídos clandestinamente em Niterói. O fato é que o projeto Rondom funcionou bem, era nacionalista e contava inclusive com o apoio da maioria da esquerda no Brasil.
O Mobral, que era um movimento de alfabetização nacional funcionou muito bem e publicava enciclopédias muito bem feitas sobre a cultura e folclore brasileiro distribuídas gratuitamente. Temos que admitir que a nossa democracia deixou de lado atualmente valores cívicos como a exaltação ao hino nacional, da bandeira dentre outros como os desfiles estudantis na época da independência, dando a impressão que civismo seria uma coisa ditatorial. Em Niterói muitos universitários participaram do projeto Rondom à par das suas posições políticas partidárias.

Ajudando na medida do possível

Embora oriundo da política estudantil através da UBES e FESM, com formação brizolista, minha família através do meu progemitor, amigo do general Goberê, chefe do SMI que frequentava minha casa. Minha avó materna prima do general Gustavo Morais Rego, chefe da casa militar, da minha prima Lúcia, casada com Edigar, sobrinho do general Guedes Pereira, tinha ainda o meu tio João Matos, ex-diretor do Senado, que inclusive libertou o primo Dagoberto, ex-guerrilheiro do Araguaia que oriundo de uma prisão na selva onde as tropas descaracterizadas fuzilaram vários companheiros, conseguiu ser transferido para o DOI-CODE no Rio De Janeiro com a ajuda de um sargento que dizia no telefone que estava preso. Assim foi acionado o general Gustavo Moraes Rigo, que soltou o Dagoberto. No estado, o pastor Jalir Chaves De Menezes, meu colega de magistério pediu para eu falar para soltar um fiel preso sob acusação de terrorista. Falei com os parentes e isto foi feito para a alegria do mesmo. Tempos depois um colega de magistério vindo de Niterói para Caxias me mostrou uma lista de subversivos segundo ele para serem entregues ao SMI. Não permiti tal barbaridade ameaçando comunicar a deduragem do mesmo à meus parentes militares. Como prêmio fui peseguido e quase transferido por aqueles que salvei da prisão.
No jornal A Tribuna em Niterói, onde eu escrevia, presenciei o jornalista Jordan Amora, hoje merecidamente um empresário de sucesso, ser preso no governo padilha por ter denunciado trambiques feitos por acessores do mesmo. Falei com meu progenitor e o Jordan Amora que estava preso no forte Santa Cruz foi solto pelos militares após provar as denuncias. Como consequencia disto, Brasília trocou o secretário de segurança pública do estado, vindo em seu lugar o coronel Homem De Carvalho, creio eu. O jornal A Tribuna na época era reduto de intelectuais vindos do jornal Última Hora, dentre eles o jornalista Maurício Hill.
Eu pessoalmente tenho muito orgulho de ter usado o prestígio militar e político dos parentes e contra-parentes, para salvar a vida daqueles que juntamente conosco lutavam pela democracia e direitos humanos. Tive também o privilégio de trabalhar no Jornal Do Brasil, o jornal Correio Fluminense e outros órgãos da imprensa.

O comissário Coelho do DOPS

Era um agente do DOPS que frequentava armado a praça Getúlio Vargas em frente o Cinema Icaraí, causando constrangimento aos frequentadores. O futuro famoso artista plástico Antônio Benevento, depois de ficar "alegre" com vinho, resolveu dançar e cantar música russa na praçinha. O comissário Coelho veio querer chamar sua atenção, sendo impedido pelo aspirante da aeronáutica de nome Raul, que não sendo político ou antes militar, defendeu o Benevento que estava somente alegre. Foi detido pelo comissário que teve a sua atitude autoritária frustada por um pelotão da aeronáutica chamado por alguém que veio em socorro do aspirante que deu uma missão de moral no agente do DOPS, que saiu humilhado para delírio da estudantada e pessoas presentes no local. Futuramente, Raul foi um brigadeiro famoso e corajoso do parazar da aeronáutica, que teve em seus quadros o famoso capitão Sérgio Macaco, que evitou a explosão do gasômetro do Rio De Janeiro, salvando centenas de vidas em um atentado que seria maliciosamente atribuído as esquerdas brasileiras, que também fizeram coisas erradas no erro de estratégia, e desumano também como a agressão à bala em um soldado inglês que participava de um desfile de 7 de setembro. O DOPS em Niterói foi acusado também do sequestro por elementos encapuzados que levaram um militante de esquerda que frequentava um ponto de encontro nas imediações para o orgão federal. O mesmo foi logo solto pois era de uma família influente, porém apo´s a soltura, nunca mais foi a mesma pessoa emocionalmente. Após o ocorrido com o Benevento, saiu do hotel Jangada, localizada na praçinha, um coronel fardado, que só não foi linchado pelos jovens graças à intervenção dos mais moderados, que colocaram o inocente oficial em um táxi com destino a rodoviária, onde pegou um ônibus para a academia militar de Agulhas Negras. Em Niterói o DOPS só não fez mais barbaridades porque a população era pequena, onde todos se conheciam praticamente, sendo assim mais fácil socorrer aos presos com o apoio de parentes e amigos influentes, que não necessariamente era anti-governamentais.

As passeatas estudantis

Os estudantes formavam verdadeiras multidões nos protestos realizados contra a revolução de 1964. Bolas de gude eram jogadas para a cavalaria tropeçar, proporcionando assim algumas agressões aos militares. Em Niterói, um formoso titular da faculdade de história liderava os alunos para as passeatas, porém entregava a relação dos faltosos para o serviço de informação da UFF. Já o catedrástico de história antiga e medieval juiz Luís César Bitencour Silva, ao contrário do colega, ficava preocupado com o desaparecimento de alunos e procurava localizá-los. Alguns jovens partiram para Cuba para treinar guerrilha sob a inspiração de Che Guevara, que por ironia do destino, foi entregue pelos camponeses bolivianos à tropa de elite do governo. Em Cuba, brasileiros que queriam ser guerrilheiros, foram obrigados a cortar cana por Fidel Castro sob sol escaldante como treinamento, não aguentaram a pressão e voltaram para o Brasil. Na guerrilha do Araguaia, ocorreram mais mortes governamentais e de guerrilheiros do que o divulgado. Soldados cubanos teriam dado apoio aos guerrilheiros segundo comentários no meio estudantil. Na Amaral Peixoto, no centro de Niterói, objetos pesados eram jogados pelos escritórios em cima dos militares que reprimiam as passeatas contra o governo, em uma demonstração clara ao apoio oposicionista.

A posição da igreja católica

No início, devido à conotação materialista de alguns líderes reformistas, a igreja católica deu apoio ao fim do regime trabalhista. Porém, vendo o desrespeito aos direitos humanos, fez campanha contra a falta de liberdade de um modo geral. Padres e altos cleros deram apoio aos perseguidos políticos, sendo que Dom Helder Câmara, fundador do Banco Da Previdência, junto com outros líderes religiosos, foi um dos que mais assumiram uma postura publicamente contra as torturas, prisões e caçações políticas. Devido a sua coragem e determinação, sofreram discriminações gerais. Em Niterói, o frei franciscano Crescêncio, de origem alemã, apoiava a luta por maiores liberdades na igreja Porciuncula De Santana. Não encontramos nas religiões não-católicas o registro de prisões e campanhas contra a ditadura militar no Brasil. Com o passar do tempo, alguns tentaram transformar a igreja católica em um "grande partido político", porém não conseguiram, pois o movimento carismático resgatou a espiritualidade que foi deixada de lado por uma minoria, não sendo este o caso de Dom Helder Câmara e muitos padres e arcebispos que não se deixaram levar pela teologia de libertação pregada pelo padre Leonardo Bofe, que foi excluído posteriormente da igreja católica. Aguns historiadores participam da tese e eu concordo com ela no sentido de que nosso senhor Jesus Cristo, fundador da igreja católica, derrubou o império romano ao falar: "A César o que é de César e a Deus o que é de Deus", pois assim o imperador perdia a sua conotação quase divina passando a ser considerado uma pessoa comum, ao contrário de Jesus, filho unigênito de Deus. Convém lembrar que a igreja católica defendeu os direitos humanos e a liberdade no Brasil em uma época em que plásticos eram colocados nos automóveis em grande escala com os dizeres: "Brasil, ame-o ou deixe-o", como que só amava o Brasil os partidários da revolução de 64. Em Niterói, se comentava nas conversas informais no meio intelectual que potências imperialistas como Inglaterra e EUA não tinham a fé católica na sua maioria e que o racismo existente nos países por eles influenciados era muito maior e agressivo do que os que foram colonizados por potências católicas, como por exemplo a comparação entre o Brasil e África Do Sul em termos raciais.                                                                                       

MAC, CCC, SMI e demais órgãos de informações

Antes e durante a ditadura militar, o movimento anti-comunista e o comando de caça aos comunistas pintavam os muros da cidade com frases como: "Morte aos comunas". Com o advento da ditadura, muitos deles entraram parao SMI( Serviço Nacional De Informações), criado pelo general Golbery Do Couto e Silva, líder intelectual dos militares e autor do livro "Geopolítica Do Brasil", que era o "livro de cabeçeira" dos militares. Talisboto, com seus dois metros e dez de altura, sobrinho do almirante Pinamboto e Juaquim Metralha, fiscal de rendas, eram mebros assumidos do SMI em Niterói. O Joaquim Metralha, que andava com uma pistola Paradelo na cintura, era também jornalista e frequentava os jornais locais. Como repórter do jornal A Tribuna no início militar, vi o mesmo mostrar para o dono do jornal uma lista de nomes de pessoas para serem presas e perguntou ao mesmo se conhecia alguém tirano, assim o nome de alguns futuros presos e possíveis desaparecidos. Certa vez, escreveram na coluna estudantil que eu e fazia nesse jornal, um ataque político violento contra o Plínio Leite, considerado o terror das esquerdas estudantis, pelas suas posições. Foi uma notícia plantada não sei por quem e graças a um gráfico e um amigo meu, tiraram este assunto, evitando assim minha possível prisão. O Talisboto morreu anos depois de infarte e o Joaquim Metralha foi misteriosamente assasinado no seu sítio.

Cadernos Do Povo

A coleção de cadernos chamados "Cadernos Do Povo" eram uma das bases nas quais as esquerdas e os reformistas se inspiravam. Temas como nacionalização da indústria farmacêutica, remessas de lucros, estatização bancária e do ensino eram abordadas nestes livros. Podemos dizer que Leonel Brizola, quando governador do Rio Grande Do Sul antes do golpe e do Estado Do Rio na abertura futura, aplicou em termos as idéias socialistas pregadas nos cadernos do povo. A estatização do ensino ou pelo menos o congelamento das anuidades escolares eram umas das metas das lideranças do governo deposto.
No início da década de 70, assistimos a um patrulhamento ideológico da chamada esquerda musical, o radialista César De Alencar e o cantor Wilson Simonal foram acusados de mancumunar com a ditadura militar. Este último praticamente morreu desprezado por uma elite que via o proletariado com certa superioridade. Na faculdade de história em Niterói, onde o estudante Jackeson morreu numa sala de aula abatido à bala por elementos encapusados ao lecionar, uns cadernos do povo eram vendidos clandestinamente e as atitudes praticadas pelos patruleiros ideológicos eram condenados pelos mais moderados. Da praçinha do Cinema Icaraí, éramos atualizados com os últimos acontecimentos, pois lá em frente ao restaurante Le Petit Paris do simpático e socialista judeu Jonas, morto num atentado á bomba na Argélia, nos reunimos e ficávamos à par dos últimos acontecimentos. De lá, partiram algumas pessoas para lutar na guerrilha da Serra Do Caparaó, sob a inspiração dos ideais brizolistas. Estas pessoas nunca mais voltaram e a guerrilha da Serra Do Caparaó parece ter caído no esquecimento dos historiadores, que dão razão aos estudos da guerrilha do Araguaia, que realmente foi mais demorada, bem-montada e estruturada do que a de Caparaó. Embora um de seus líderes e político ecológico atuante e sequestrador de embaixadores estrangeiros em troca de reféns presos pelos torturadores não tenha explicado ou se defendido da acusação de covarde por parte de um jornalista de direita do jornal A Tribuna Da Emprensa, que sob a direção de Hélio Fernandes, várias vezes preso por combater a ditadura, de que pediu emprestado á amigos um apartamento e uma Kombi, sem os avisar que servira de local de encontro e transporte para a guerrilha urbana sequestrar o embaixador. Seus amigos foram presos pelos órgãos de segurança e ''pagaram o pato" pelo o que não fizeram segundo o jornalista Adilson De Barros. Este guerrilheiro também dava o se apoio a guerrilha do Araguaia em certa época.

A bolsa, as drogas e o suicídio

No início da década de 70 houve um aumento na bolsa da valores em todo o Brasil, motivada pela máfia especulativa, que motivou pobres e ricos a aplicarem todas as suas economias e patrimônios no mercado de ações. Oportunistas compravam ações com cheques sem fundo, gerentes mancumunados com eles, faziam o cheque voltar por falsa assinatura, porém, com as vendas das ações, os cheques eram cobertos e todos saiam ganhando. Não era o caso do querido Sérgio Galhofa, um gozador e tipo alegre membro do PCB, que ganhou muito dinheiro na especulação financeira honestamente. Porém, nesta época, estranhamente, uma grande parte das lideranças estudantis começava a se viciar em drogas, mais especificamente, na cocaína, sendo o caso do Galhofa que se matou. Segundo comentários, havia interesses em viciar os jovens, para que os mesmos se acomodassem, não reagindo à situação. Tempos depois, as bolsas de valores explodiram e muita gente perdeu suas economias e patrimônios.

Voltando de Angola

  Quando Angola estava sob regime naxsita, com combates entre a Frente de Libertação Nacional e a Unitas, tropas cubanas foram enviadas para ajudar o exército governamental. Nesta época, muitos cantores da música popular brasileira que aqui nos festvais vieram a protestar contra o regime militar vigente, foram visitar o governo de Angola. Porém, o cantor Keller, ao ver as tropas cubanas comandando o exército para o povo receber comida racionada, seus companheiros bebendo uísque junto com os líderes locais e se chamando entre si de camaradas, ficou revoltado e voltou para o Brasil. No final dos idos 60 e início da era 70, proliferavam no Brasil, festivais de música popular que pregavam a democracia. Geraldo Vandré teve a coragem de fazer música que falava de soldados armados, flores na mão e etc. Foi preso e segundo comentários, sofreu uma operação praticada pela repressão que lhe tirou toda a "agressividade". Nunca mais cantou e dizem que raramente se apresenta para um circo fechado. O fato é que o mesmo, segundo comentários, se transformou em um advogado comum, para não dizer medíocre.
   Na praçinha do cinema Icaraí em Niterói, se reuniram a nata da intelectualidade entre jovens e não jovens. A cantora Baby Consuelo, Sérgio Mendes e membros do futuro conjunto MPB4, eram algumas das frequencias na pracinha. O ocorrido em Angola, dividiu a esquerda niteroiense, uns defendiam a atitude burguesa dos visitantes e outros a volta do Keller. Com relação ao Geraldo Vandré, até hoje nada foi apurado ou esclarecido devidamente, pois o mesmo não dá entrevistas.
Vou palestrar e voltaremos na segunda-feira falando sobre a bolsa de valores, as drogas e suícidio ocorrido com um militante do PCB.

Francisco Julião, as ligas camponesas e o MST

Ao contrário do atual MST, que invade e destrói terras produtivas, vendendo lotes e contaminado pela corrupção, inclusive com processos e prisões, as ligas camponesas se caracterizavam pelo bom senso, sob o comando de Francisco Julião, que contava com o apoio de políticos liberais, dos militantes, cúpula do PCB, PCdoB e da AP, a ação católica popular, dentre outras entidades. Em Niterói, o jornalista Domar Campos, de renome internacional, pregava que a região de Pendotiba deveria se tornar um  pólo agropecuário, coisa impossível atualmente de ser feita, pois o prefeito Jorge Roberto Silveira, traindo os ideais de Brizola de quem se diz partidário, transformou a cidade em um feudo da especulação imobiliária, que ataca com sua ganância a região de Pendotiba. Em Cachoeira de Macapu, um líder das ligas foi preso antes do golpe, porém foi solto pela população. Fernando Ferrari, um líder do PTB, pregava o início da Reforma Agrária nas terras do governo. As ligas camponesas também defendiam nossos indígenas, que serviam de alvo para os proprietários ruralistas que treinavam tiro ao alvo nos mesmos, eles davam, muitas vezes, roupas contaminadas com gripe, pois os nossos índios, não tendo defesa, morriam gripados e suas terras poderiam mais facilmente ser ocupadas pelos membros da União Democrática Ruralista, porta-vozes dos grandes latifundiários. As ligas camponesas consideravam latifúndios "as terras não produtivas", independente da sua extensão territorial. Muitos dos seus membros eram assasinados, mas a divulgação era quase inexistentes. O papel histórico das ligas camponesas, de Francisco Julião, a traição de antigos brizolistas e do MST, é um assunto que deve ser ainda mais analizado e julgado pela história, para que se registre a atitude inqualificável dos mesmos, manchando todo um passado de lutas e ideais daqueles que morreram sonhando com um mundo melhor.

O confontro dos exérecitos

As tropas leais ao governo estabelecido democraticamente se posicionaram na Avenida Brasil, colocando tanques e caminhões para o confronto com as tropas insugentes oriundas de Minas Gerais. Quando o confronto estava eminente, com possível apoio de tropas da marinha e da força aérea, oficiais revoltosos entregaram aos comandantes do exército do Estado da Guanabara e Estado do Rio de Janeiro, uma carta na qual o embaixador americano afirmava que a Sétima Frota dos Estados Unidos já estava se preparando para invadir o Brasil caso houvesse o confronto bélico. Para evitar derramamento de sangue entre irmãos e uma guerra de proporções inprevisíveis, o exército legalista aderiu ao golpe militar. Pouco tempo depois, o ministro do governo golpista não pode descer em um aeroporto no Amazonas, porque soldados estrangeiros teriam impedido o seu desembarque. Segundo comentários, tropas americanas já tinham se infiltrado na região Amazônica antes do golpe. Negociações sigilosas teriam conseguido a retirada dos estrangeiros sob pressão da ala nacionalista das forças armadas. No Estado do Rio de Janeiro, o exército teria imposto sua adesão ao golpe militar sob a condição do interventor ser o marechal Paulo Torres, que a bem da verdade, fez um governo, embora breve, relativamente democrático e não permitiu que acontecesse torturas. Segundo comentários, no antigo Estado da Guanabara, jovens eram estupradas por repressores com os cacetetes de ataque à conflitos.

A CIA no Sindicato

Antes do golpe militar, foi feita uma reunião no Sindicato dos Operários Navais com a presença de sindicalistas, fuzileiros navais, marinheiros e lideranças estudantis e políticas. Eram reinvidicadas vantagens para os soldados e sub-oficiais, bem como analizadas as reformas de base, pregadas pelo governo trabalhista, que feriam interesses das oligarquias dominantes e o capital internacional, com limitação da remessa de lucros para o exterior. O cabo Ancelmo fez discurso inflamado, praticamente pregando a reforma da armada. Tropas navais lá enviadas se recusaram de início para invadir o sindicato. Depois de muito acordo, o sindicato foi esvaziado sob a pressão das armas. Os operários navais, antes do golpe, ajudaram os piquetes estudantis na greve pelo congelamento das anuidades escolares. Posteriormente se soube e se comprovou que o cabo Ancelmo era um agente infiltrado da CIA que chegou a ponto de participar, por motivos políticos, do assasinato de sua própria namorada, que era socialista atuante.

Fugindo do DOPS

No início de Abril fomos na UFF (União Fluminense Estudantil) junto com o companheiro Emanuel procurar José Augusto, presidente da UFF. Chegando lá, encontramos um colega nosso, o Baruni, agente infiltrado da delegacia política, que ao lado de dois policiais militares, pegou nossas indentidades e viu se nosso nome constava na relação de procurados. Por sorte, apresentamos documentos estudantis com sobrenome falsificado. Então, o agente desmascarado nos falou que José Augusto, presidente da UFF, estava foragido e nos pediu para dar vivas para a democracia. Emanuel falou que éramos brizolistas contra o golpe militar e deu um empurrão no dedo duro, que saiu correndo atrás de nós com os militares gritando: "Pega os comunistas!". Tiros foram dados para o ar e nós nos misturamos no meio de sindicalistas que faziam passeatas contra a quebra da democracia. Perto da estação das lanchas encontramos um líder sindical, que correndo, me entregou uma mala cheia de armas, pois já viam atrás dele. Apavorado, joguei tudo no mar e presenciei pessoas sendo presas, algemadas e espancadas sem motivo algum, pois eram meros transeumpeas.

As tropas na pedreira

Um batalhão reduzido do precipitado general Morão Filho, que deslocou o exército mineiro antecipadamente, foi colocado na pedreira da Amaral Peixoto. Os estudantes mostravam cartazes apoiando Brizola e Jango. A pedido dos oficiais, as direções do Liceu e Centro Educacional retiraram os cartazes. Logo após, estas tropas deram apoio logístico à Polícia Militar que invadiu a Câmara Dos Deputados em busca do deputado do PCB Afonso Celso, que fugiu escondido na mala de um carro. Depois o Afonso Celso foi preso e ameaçado de se jogar ao mar ou comer escrementos de cavalos no Batalhão Da Cavalaria Montada. O mesmo falou que se o jogasse no mar beberia água para não sofrer e que estava acostumado com cavalos no interior. Foi dada fuga ao deputado Afonso Celso, quando solto, para o interior da Bahia, onde teria se escondido em uma igreja católica, com apoio dos padres, que eram contra a revolução. Futuramente na abertura política, o deputado se elegeu novamente e antes da época do inquérito político militar, foi aplaudido de pé pelos militares, que ficaram admirados com a sua explanação sobre o verdadeiro sentido do socialismo e democracia, indo em desacordo à ditadura da antiga União Soviética. Quando deputado, o Afonsio foi atropelado, perdeu massa cinzenta e, milagrosamente, ficou lúsido e atuante.

As prisões no Caio Martins

Imediatamente o Ginásio Caio Martins foi transformado em 3 de abril em uma enorme prisão política. As lideranças intelectuais e políticas de Niterói foram pegas em suas casas e locais de trabalho, sendo transferidas, algemadas e debaixo de agreções físicas e verbais para o Ginásio Esportivo. Suas bibliotecas particulares eram jogadas nos caminhões da Polícia Militar para serem destruídas. Alguns ainda conseguiram enterrar seus livros em sacos plásticos nos quintais para salvá-los do confisco ditatorial. Com o passar do tempo, o marechal Paulo Torres, revoltado com esse absurdo, mandou o querido coronel Paiva soltar os presos políticos e assumiu a governância do estado do Rio De Janeiro, cuja capital era Niterói.

Indo para a praça Mauá

Após o golpe militar, partimos em comitiva de cem estudantes, aproximadamente, para a Praça Mauá, no Rio, onde nos encontramos com o almirante Cândido Aragão, que nos esperava com vários caminhões FNM carregados de armas para atacarmos com os demais companheiros e fuzileiros navais o Palácio Governamental, onde estava o governador Carlos Lacerda. Porém, como muitos não sabiam manusear as armas e ficaram nervosos, o almirante deu uma contra-ordem para o ataque.