A cela coletiva da Ditadura

Nos idos 70, a repressão em Niterói via DOPS era comandada pelo comissário Coelho, sendo que outro famoso comissário de nome Nilson era da polícia regular e não da ordem política segundo mal informados. Os jovens jornalistas que iniciavam a carreira eram chamados de focas e iniciavam o seu trabalho correndo as delegacias policiais em busca de assuntos. Estagiando no jornal  A Tribuna, no Jornal do Brasil com Pedro Muller no Rio, bem como na publicidade Tompson, corri vários locais policiais a serviço da Tribuna. A Secretaria de Segurança ficava localizada no Centro da Cidade ao lado da antiga Câmara dos Deputados. Ficamos desconfiados devido a existência dos agentes policiais para que não olhássemos para o interior das grades, para que os presos não "marcasse" a nossa cara e depois tivéssemos futuros problemas. Foi então que se descobriu que o objetivo era disfarçar o fato de que presos políticos pouco conhecidos, inclusive de fora após serem torturados nos porões dos DOPS eram lançados em celas coletivas, onde, mulheres e homens se misturavam a bandidos comuns, e assim, entregues  a própria sorte, uma vez que os direitos humanos eram ainda muito incipientes em Niterói.

A mistificação de Joaquim Metralha

Amigo do gigante Tales Boto (dois metros de altura), parente direto do almirante Pena Boto, ante comunista ferrenho, ligado ao CENIMAR, residente em Icaraí assumido publicamente como agente do SMI, vitimado depois por mortal depressão nos anos 70 o Tales, é um dos amigos pessoais do Joaquim Metralha, líder do CCC e do MAC, fundado na faculdade Bennet, em São Paulo, chefiando Niterói, frequentava redações jornalisticas locais sendo tratado a pão de ló pelos seus diretores que permitiam que o mesmo batesse lista de subversivos em suas mesas que depois de feitas em papel timbrado do MAC, que era financiado pela CIA através de verba secreta via embaixada do EUA, que era enviada depois para o SMI localizado no edifício de Previdência do Estado no Centro da Cidade nos fundos do ASPERJ.
Você conhece este?^E este? Eram pergunatas feitas ironicamente pelo fiscal de rendas nas redações, sempre com sua pistola 45 Parabelo em cima da mesa "apoiado" com a benevolência ou medo dos jornalistas digamos assim, para não ferir melindros. O famoso X9 foi mistificado por setores de supostas esquerdas, após abertura democrática, como se fosse um grande agente, espião e coisas assim. No fundo era um dedo duro assumido, ante comunista patológico, que não era levado a sério pelos orgãos de informações oficiais, exceto o DOPS formado por mentes doentias de Niterói, comparsa nas extorsões, salvo raríssimas exceções.

Meu amigo e jornalista Maurício Hill e outros dados ditatoriais ocorridos em Niterói

 Oriundo do jornal Última Hora, fechado pela ditadura, o jornalista Maurício Hill ficou meu amigo durante a ditadura. Estudando a noite no colégio Corrêa D'avila, em Icaraí, recomendei via carta de recomendação a colega Nelly, que queria estagiar no jornal A Tribuna, onde se conheceu Maurício e posteriormente se casaram. Sendo jovem, ficava admirado com a coragem do Maurício, enfurecido ao ver o agente do Movimento Anti-Comunista "Joaquim Metralha", com listas para serem entregues ao DOPS. Para ninguém ler os nomes das pessoas, ele colocava em cima da mesa uma pistola Parabello.
 O movimento Anti-Comunista em Niterói era financiado com verba direta da Central de Inteligência Americana. O Maurício Hill, ao contrário de muitos, não respondia aos raros comprimentos do Joaquim, que frequentava as relações jornalistas de Niterói, em uma bajulação total por parte de muita gente.
 Metralha mentia dizendo ser do SNI, sendo na verdade íntimo do conhecido agente do SNI Thalles Boto, que sendo sobrinho ou parente direto do almirante Pena Boto, não me lembro ao certo, que nos seus 2 metros de altura dava respaldo as suas fanforrices. Joaquim Metralha foi fuzilado devido a problemas passionais no seu sítio, de joelhos e segundo comentários, implorando pela vida.
 Quem possuia o arquivo político em Niterói seria o Thalles, que não seria ingênuo a ponto de deixá-los fora da guarda no órgão secreto. O resto é provável fantasia popular. Certa vez, estando com Maurício Hill na leiteria Brasil, no centro da cidade, presenciei o Joaquim Metralha ser preso por um oficial do exército por o ter ofendido.
 Maurício enquanto vivo fez parte daquele grupo de jornalistas intelectuais que sempre combateram a ditadura e nunca compactuaram de alguma forma com os agentes da ditadura. Nunca ocupou cargos em meios de comunicação oficial, continuou sendo um excelente cronista também do tipo Nelson Rodrigues e pagou o preço pela sua coerência política.

A greve estudantil, as reformas trabalhistas, a reação dos "tubarões do ensino" pelas lideranças estudantis niteroienses

Nos dias que antecederam o golpe militar de 1964, os estudantes secundários de Niterói, que apoiávam o governo de Jango, posteriormente assassinado no Paraguai e todas as suas reformas de base,fizeram uma greve geral pelo congelamento das anuidades escolares. Foi também uma greve política com proporções nacionais, os partidos políticos estudantis (URE, dentre outros) possuiam representantes eleitos em todas as escolas, sendo filiados à UBES, FESNI e COFES. Estudantes filiados ou simpatizantes do PCB,  PCdoB e Ação Católica Popular também faziam parte dos seus quadros políticos. Os líderes eram Luíz Sérgio Rosa Lopes, Emanuel Sader, Sérgio Mauro e José Augusto Pereira Das Neves (este último eleito deputado estadual e cassado pelo golpe), presidentes da UBES, FESNI, COFES e UFE , sendo este último de cunho universitário.
Os operários navais ajudavam os estudantes na formação de piquetes grevistas nas portas das escolas. Os colégios públicos, municipais e estaduais apoiavam integralmente o movimento grevista. Os professores de um modo geral, em busca de melhores salários e politizados, também apoiavam o movimento. O jorna Última Hora dava total apoio aos grevistas e ao governo constituído, enquanto os jornais locais se omitiam ou condenavam abertamente a greve.
O colégio Plínio Leite, cujo diretor era contra o governo e o movimento estudantil, chegou ao ponto de colocar seguranças armados nas portas da escola e conseguiu com isto impedir a entrada dos estudantes navais. Como represália, as lideranças colocaram de madrugada "cola-tudo" nos portões da escola atrasando a entrada das aulas.
Posteriormente, possuindo faculdades, o professor Plínio Leite Comte Bittencourt foi eleito deputado estadual e vereador em Niterói pelo PPS (antigo Partido Comunista Brasileiro)
Quando deu uma reunião no Centro Educacional de Niterói, com a presença de líderes estudantis e políticos junto aos diretores de escolas, causou mal-estar à expulsão de um militante que  chamava os diretores de "tubarões de ensino" por parte de um dirigente do PCdoB que tentava um acordo, esquecendo que era comum palavras de ordens serem ditas em pontos estratégicos seguindo determinações político-partidárias. O Centro Educacional de Niterói era um colégio considerado neutro. Após o golpe, professores foram demitidos e alunos de tendências de esquerdistas foram convidados a se retirar.
O colégio Martim Afonso em Icaraí sofreu pressões da ditadura por ser uma escola de tendências socialistas.

Transferindo professores, Os sindicatos educacionais, o papel moderador da FESNI e o ataque do CCC

Na ditadura os professores com tendências esquerdistas ou os que caiam no desagrado das direções escolares ligadas a revolução de 1964 (que não eram poucas), tinham seu nomes excluídos da grade escolar   sobre a alegação de excedentes e eram transferidos para outras escolas, inclusive com o horário quebrado, sendo assim obrigados a trabalhar em vários colégios para cumprir a carga horária em uma época em que o pagamento demorava seis meses para ser depositado. Muitos não aguentaram a pressão e pediram demissão ou não tinham seus contratos anuais reformados, pois antes não eram estatutários. Sem falar os que tinham seus nomes entregues para o DOPS que não lhes fornecia o atestado ideológico exigido pela ditadura para se trabalhar em órgãos públicos ou autarquias.
Os sindicatos formados pela UPPE e APEN não passavam de meros clubes que nada faziam pela classe, ao contrário do futuro SEPE, que antes de virar porta-voz do PT na abertura, lutou pela classe e foi espancado várias vezes pela polícia militar do oposicionista Moreira Franco, casado na época com a professora Selina, parente direta do Amaral Peixoto, politico respeitado em todas as correntes ideológicas. Deve-se a mesma a ascensão política do Moreira Franco no Estado do Rio, onde as bases tinham compromissos e deviam favores ao Amaral Peixoto.
Antes da ditadura até início de março de 1964, a Federação dos Estudantes Secundários de Niterói, que congregavam os partidos políticos estudantis secundaristas de direita e esquerda ligados ou não ao PCB. O moderado Emanuel Sader conseguia manter um equilíbrio entre as diversas correntes.
No início do golpe, para-militares armados e encapuzados do Comando de Caça aos Comunistas invadiram a sede da entidade, no centro de Niterói, quebrando tudo, espancando os transeuntes e roubando miniógrafos e documentos.
Com a abertura política, nossas lideranças sofreram de amnesia histórica e nunca se preocuparam em refundar a FESNI, incentivando a política estudantil no meio secundarista. Os grêmios estudantis também foram esquecidos.

Almirante Raul Mendes Jorge

O almirante Raul Mendes Jorge era um dos homens fortes e intelectuais da Armada Brasileira. Porém, tinha um espírito altamente liberal e frequentava nossas livrarias, sendo amigo de escritores do nível de José Cândido de Carvalho e admirador de José Mauro de Vasconcelos, autor do livro "Meu pé de laranja-lima", motivo de polêmicas ecológicas na imprensa niteroienses (onde escritores defendiam ou não),sendo um dos livros mais lidos na década de 70 no meio acadêmico e literário niteroiense.
Certa vez, um amigo seu caiu nas mãos de agiotas que lhe tomaram quase todas as suas "riquezas" , então o mesmo foi orientado pelo oficial para fazer um exame grafo técnico nos cheques assinados, que comprovava a falsidade da sua assinatura. O mesmo saiu da depressão, recuperou a auto-estima e os agiotas foram presos pelos Órgãos de Informações da Marinha (SENIMAR) e entregues as autoridades policiais para as devidas punições legais.
Proprietário de uma chácara em Pendotiba, o almirante vendeu a mesma para o professor Dalto, que lá criou a famosa escola Aldeia Curumim, antes doou várias estantes de livros para os seus amigos.
Eu e o filósofo Luís Plauto Alves fomos contemplados com duas belas estantes trazidas em nossas residências por caminhões pagos pelo mesmo. Nesta época, em Niterói, os estudantes eram presos indiscriminadamente pelos órgãos repressores, sendo que os que conviviam com o almirante nos bate-papos literários e políticos na casa da filosofia, mesmo com tendências marxistas ou não. Nunca foram importunados pelos agentes que bisbilhotavam à tudo e a todos, formando assim o mesmo tipo de "armadura" contra as represálias existentes para com os estudantes intelectuais niteroienses.

Sílvio Fonseca, um jornalista da direita que ajudava as esquerdas

Proprietário do jornal semanal Correio Fluminense e presidente da Associação Fluminense de Jornalistas, Sílvio Fonseca, embora à favor no início do golpe de 1964, era meu padrinho como sócio colaborador da citada associação. Era amigo e liberal para com os estudantes oposicionistas do governo, permitindo que os mesmos usassem as dependências da associação, localizada na sobreloja do Palácio dos Jornalistas, para fazerem reuniões, seminários e estudos políticos para encontrarem formas de combater as prisões e torturas aqui realizadas. Pai do escritor Silvão Paezo, o mesmo era injustamente acusado por um grupo da esquerda jornalística de Niterói como reacionário. Devido ao fato de permitir nossos encontros nas excelentes dependências do citado órgão que tinha teatro, biblioteca e restaurante, o "velho dinossauro" recebeu até ameaças telefônicas por dar cobertura à jovens rebeldes. Porém nunca se intimidou e sempre permitiu a presença de grupos de estudo. Em uma dessas reuniões, alunos de História descobriram que na Guerra do Paraguai, a população negra niteroiense diminuiu muito por que foram lutar e os escravos tiveram que ser substituídos por outros vindos de outras cidades vizinhas. Também soubemos por internet, do desaparecimento do chamado "Franklin", simpatizante do NR8 e que na Região Oceânica de Niterói, existiam locais clandestinos onde agentes do DOPS e grupos para-militares levavam presos "políticos" de famílias abastadas para depois chantagearem as mesmas para futura soltura.
 O jornalista Sílvio Fonseca nunca nos perguntou ou jogou indiretas para saber dos assuntos lá tratados, e simpatizava muito com as crônicas e sátiras políticas do Sérgio Porto, publicadas nos famosos livros chamados de "Festivais de Besteiras que assolam o país (FBAPAS)". Sempre manteve suas posições políticas, foi coerente e não "virou a casaca", como muitos colegas que aderiram ao regime militar em troca de interesses escusos fizeram. Não se via na Associação de  Jornalistas na sua época, os famosos "dedo-duros" que lá frequentavam com a frequência com que o faziam nas redações dos jornais niteroiense da época, pois sabiam que o mesmo não era de se intimidar.