Uma pedra no caminho

No caminho não tinha uma pedra,
Tinha tanques,
Fuzil...
No meio do caminho não tinha uma pedra,
Tinha homens armados,
Fardados...
No meio do caminho não tinha uma pedra,
Tinha prisões,
Fome,
Torturas...
No meio do caminho não tinha uma pedra,
Tinha guerrilhas,
Revolta,
Inocentes também mortos!
No meio do caminho não tinha uma pedra,
Tinha capitalismo selvagem,
Exploração do homem pelo homem...
No fim do caminho não tinha uma pedra,
Tinha a pedreira do amor,
Liberdade,
Democracia,
O sonho de um mundo mais justo,
Mas humano!
No meio do caminho...

Poema em homenagem aos que deram a vida sonhando por um país mais livre, democrático e nacionalista.


As torturas, prisões legais, clandestinas e a mudança do "Simões"

Na época ditatorial existiam reformantes com carteiras do DOPS, SNI e MAC(Movimento Anti-Comunista), com dizeres solicitando auxílio às forças policiais. Pessoas eram sequestradas sob a acusação subversivas e muitas de famílias ricas teriam sido vítimas de chantagens por quadrilhas que usavam o poder do Estado para a revolta dos militares, que passaram a puní-los. Em Niterói um elemento ligado ao DOI-COD teria sido expulso do exército por esta prática e se transformado em um "empresário". O livro "Tortura nunca mais!" tem a relação de muita gente. Existiam prisões clandestinas e oficiais, como a do Forte Santa Cruz.
Em Niterói, o estudante "Simões", por comentar na Praia De Icaraí, junto a amigos que conheciam os participantes do fracassado sequestro do Aeroporto Santos Dummont, foi levado por encapuzados em um Opala preto e sem chapa, sendo solto 20 dias depois por interferência de familiares. Nunca mais foi a mesma pessoa. Sons altos eram ligados a Delegacia De Ordem Política em Niterói para abafar os gritos dos jovens que eram espancados. Polícias Civis e até Guardas Municipais eram autoridades temidas.
Uma prática usada pelos carcereiros das prisões navais era a de colocar uma baioneta nas costas dos presos que ao evacuarem em valas comuns sofriam de prisão-de-ventre.
Com relação ao "Simões", se comentou na época que teriam aplicado o chamado"Soro Da Verdade" no mesmo para falar o que sabia e não sabia sobre o fracassado sequestro.

Católica

Fundada por Jesus,
abençoada por Deus.
Humana também,
com erros,
defeitos,
com homens e pecados...
Porém santa e una...
Posições humanas,
política,
Santa,
Carismática,
Espiritual.
Voz da liberdade,
direitos humanos,
democrática.
Combatida,
atacada,
porém firme!
Fundada por Jesus,
tendo Pedro como rocha,
não criada pelos homens!
 Esta conta não lhe será cobrada!

Poema exaltando a coragem da Igreja Católica, que ao contrário de muitas outras religiões, nunca se omitiu ou calou diante das torturas e barbaridades cometidas em uma época em que até padres foram mortos e perseguidos somente porque queriam justiça. Do Élder Câmara, foi um exemplo vivo deste apostolado, incomodou tanto a direita, como a esquerda

Arena, MDB, voto vinculado e extrapolando um pouco

O governo revolucionário de 1964 determinou e os políticos concordaram na existência de somente dois partidos. A Aliança Renovadora Nacional, com maioria absoluta no Congresso até o mais distante recanto nacional, era o partido do governo. O Movimento Democrático Brasileiro era uma oposição meio "de araque" que descaradamente aprovada tudo que o governo queria também. Cargos civis em todas as áreas estatais eram ocupados por militares. Existia porém gente digna em todos os partidos. Em Niterói, o deputado estadual Luciano Maia, dentro de suas limitações arenistas, ajudava quem podia, o Moreira Franco, um prefeito de Niterói pelo MDB, mantinha certa autonomia, porém cometeu o erro de no Campo De São Bento, dar cabo em dezenas de árvores seculares, para a revolta dos ambientalistas. O voto era vinculado, tinha que se votar desde o vereador ao governador, etc., etc., em um mesmo partido. O MDB era um verdadeiro "saco de gatos", agrupando desde guerrilheiros até fascistas não satisfeitos com a ditadura. Na Alameda Carolina, em Icaraí, os jovens se distraíam andando em carrinhos de rolimã e muitas vezes levando borrachadas da PM, devido a reclamações. Nesta rua foi encontrado por acaso, em uma casa abandonada pelos jovens, pastas com documentos do MAC( Movimento Anti-Comunista), que foram injenuamente entregues aos policiais. Na abertura política, Darcy Ribeiro era o candidato brizolista do Estado. Porém urnas saíram das seções eleitorais antes do prazo em carros particulares. Denúncias foram feitas em vão. Posteriormente, em conversa com meu amigo empresário e brizolista George Germain, homem digno e ligado à família medina da Arteplan, o mesmo me falou que teria ouvido comentários de que as urnas teriam sido trocadas pelos órgãos de informações para que Darcy Ribeiro não se elegesse e sim Moreira Franco.

Poema censurado

Jovens, idealistas,
Livros,
Debates políticos,
Conversas reservadas ao pé do ouvido...
Silêncio,
Torturas, prisões...
Geração oprimida,
Massacrada, frustada...
Fome,
Miséria,
Desigualdade social...
Morte e vida severina...
Torturas,
Prisões...
Cavalaria motorizada,
Bolas de gude, cavalos caindo
Fome, miséria, indústria da seca,
Josué De Castro,
Domínio do capital internacional...

Na época deste poema pré-censurado, o filho do jornalista Nelson Rodrigues, procurado politicamente, assistia a um jogo do Fluminense no Maracanã, só não foi preso porque um agente policial foi impedido de se aproximar do mesmo com a seguinte palavra pronunciada pelo Kléber, que conhecia de vista o então barbudo Nelson Rodrigues: "Você está maluco?! Viemos assistir futebol e você não tem nada que imaginar que está vendo fulano ou ciclano.". O Kléber era simpatizante do PCdoB. 

Tribuna da imprensa, a prisão do delegado Belot, a tática de contra-informação e um jogo de futebol.

Dono da Tribuna Da Imprensa, Hélio Fernandes, ligado ao capital nacional era o único jornalista que combatia abertamente a ditadura militar. Nesta época jogaram bombas na OAB, no Rio-Centro e na própria Tribuna da Imprensa. Frequentador da minha casa, o oficial Valnísio, braço direito do general Goubery, ficou admirado com a coragem do Hélio Fernandes, que por certo tempo rodou seu jornal em Niterói. Por perseguições, Hélio Fernandes foi várias vezes presos e infelizmente nunca se elegeu. O jornal do Brasil, já em certa decadência nesta época, administrado por poucos idealistas, tentou pedir dinheiro a um banqueiro do jogo-do-bicho em Niterói, como não conseguiu, fez campanha contra o casamento da sua filha, realizado no Clube Canto Do Rio.
Minha prima Lúcia Matos Marinho, casada com Edigar Guedes Pereira, sobrinho do general de quatro estrelas Aluísio Guedes Pereira e primo do capitão Gilberto Guedes Pereira, que servia no grupamento Leste em Niterói, sob o comando do seu pai, tinha posições democráticas.
Certa vez, o Gilberto Guedes, ao estacionar seu carro na garagem da 77ª Delegacia de Polícia Civil em Niterói, foi preso pelo delegado Belot, que não o respeitou. Consegui avisar ao seu pai na CR, no Centro e caminhões da polícia e do exército invadiram a delegacia soltando o oficial e levando o poderoso e arbitrário delegado preso para o Presídio da Fortaleza De Santa Cruz. O delegado Belot, ao ser preso, proporcionou sem querer a fuga de vários presos políticos que iam ir para o DOPS. Ao ser solto foi para Cabo Frio, onde proibia as mulheres de usarem biquíni. Porém era honesto. Nesta época, vários ex-terroristas davam testemunho na televisão dizendo do seu arrependimento e famílias de policiais eram mostradas na televisão dizendo que eles também eram humanos. Famosa firma comercial mostrava um caminhão usado como palanque e dizendo que esta época passou e que era negócio comprar seus produtos verdadeiros.

Os partidos estudantis, as lideranças castradas e o sistema prisional

Em Niterói os partidos políticos estudantis eram fortes, na federação dos estudantes secundários de Niterói, era presidente Emanuel Sader, que fazia ótima administração, inclusive os estudantes pagavam meia passagem em ônibus estaduais que já cobravam um preço bem abaixo dos particulares. Existia a URE (União Renovadora Estudantil), presidida pelo líder Aires de Ataíde Vermelinger Barbosa, que tinha forte influência na UBES ( União Brasileira Dos Estudantes Secundários), dirigida por Luís Sérgio Rosa Lopes, muito ligado ao presidente da UFE (União Fluminense Estudantil), de nível universitário, sob a administração do futuro deputado católico, José Augusto Pereira Das Neves, que foi posteriormente caçado no Ato Institucional nº5. As sedes dos partidos estudantis, que elegiam representantes nas escolas, ficavam na sua maioria no centro de Niterói, na Praça Do Rink, em prédio também ocupado pelo Partido Comunista Brasileiro.
Todos se uniram em uma greve pelo congelamento das anuidades escolares, porém, no Colégio Plínio Leite, um dos líderes educacionais da revolução, não se pode sequer tentar, pois apesar da ajuda dos operários navais, os estudantes foram intimidados por pessoas fortemente armadas.
Com o golpe militar, as lideranças niteroienses ou foram presas, ou simplesmente desapareceram, isto de um modo geral, sem falar naqueles que nunca mais quiseram participar da política, como o Aires e o José Augusto. Era uma época em que se comentava que os órgãos civis de informações, através do DOPS, incineravam os corpos dos militantes mortos nas salas de tortura em fornos de imprensas, cujo proprietários eram simpatizantes do golpe.